Nota-se
que há uma grande mudança cultural no comportamento dos jovens, e
uma das características dessa mudança é a ruptura com os padrões
de comportamento dos pais.
Isso se
deve, em boa parte, ao fato de que a juventude faz parte de uma nova
geração, nascida e criada sob o signo da informação e da
comunicação e, parte da explicação desse fenômeno está no
surgimento da televisão. Ao interferir na relação dos jovens com o
mundo adulto, a televisão detona uma mudança radical das relações
que se dão na família, levando a um debilitamento social dos
controles familiares. É claro que não é a televisão sozinha que
provoca essas mudanças, mas ela cataliza movimentos presentes na
sociedade, como, por exemplo, as condições de vida e trabalho que
intervêm na estrutura patriarcal, no trabalho feminino, na redução
do número de filhos, as novas formas de relacionamento conjugal, a
percepção do papel da mulher etc.
Há
quatro fatos que precisamos saber em relação ao comportamento da
juventude. O primeiro é a percepção, ainda obscura e confusa, de
uma reorganização profunda nos modelos de socialização: nem os
pais são mais o padrão de conduta, nem a escola é um único lugar
de transmissão de saberes, nem o livro é o único educarticulador
da cultura. O segundo é a constatação de uma sensibilidade
desligada das formas de cultura mais convencionais e ligada à
cultura tecnológica, “que vai da informação absorvida em sua
relação com a televisão à facilidade de manejo da complexidade
das redes informáticas”. O terceiro é o aparecimento de um novo
tipo de sensibilidade das crianças e dos jovens, que é sua ligação
com imagens, sons, fragmentações, velocidades, ou seja, o jovem de
hoje está exposto a novas formas de sentir, de ouvir, de ver, a
novas formas de linguagem, baseadas na tecnologia, e que vão de
encontro com o modo
de
perceber e de sentir dos adultos. Finalmente, o quarto, é que a
escola deixou de ser o único lugar de legitimação do saber; há
uma multiplicidade de saberes que circulam em inúmeros canais e
lugares. Em frente ao professor, sentam-se alunos 'empapados' de
outros saberes, outras lingua-
gens que
circulam na sociedade, que não são saberes organizados como as
matérias de ensino, mas saberes-mosaico, porque são fragmentos,
pedaços da realidade, ainda que expressem o que se passa na cabeça
das crianças.
A relação
estreita dos jovens com as mídias se manifesta, também, numa outra
lógica de organização da cidade e de ocupação de espaços. Ao
mesmo tempo em que se constata a expansão urbana, dá-se a
densificação dos meios massivos e das redes eletrônicas, em que as
redes audiovisuais provocam uma nova diagramação dos espaços e
intercâmbios humanos. Pode-se dizer, segundo Martín Barbero (2002),
que habitamos um novo espaço comunicacional, em que se criam novos
modos de estar juntos, a ponto de os espaços de mediação e
experiência tecnológica substituírem a experiência pessoal e
social. "Os engenheiros do urbano já não estão interessados
em corpos reunidos, os preferem interconectados [...] é de casa que
as pessoas exercem agora cotidianamente sua conexão com a cidade"
(MARTÍN BARBERO, 2002, p. 4). Há ainda outros temas abordados por
Martín Barbero, já familiares à sociologia e à geografia, como o
não-lugar, espaços onde as pessoas são liberadas de fazer valer
sua identidade, não necessitam falar nem
ser
interpelados por ninguém, a música, as bandas, que compõem a
configuração desses novos modos de ser da juventude.
Essas
análises do pesquisador em comunicação devem mobilizar a atenção
e a sensibilidade dos professores, já que explicitam a cultura dos
alunos, a cultura que os jovens vão constituindo e na qual buscam
modelos para construir suas identidades. Estamos diante de novas
sensibilidades,
novas
linguagens, outros modos de percepção do espaço e do tempo, da
velocidade dos alunos e das imagens, do global e do local, que,
indubitavelmente, modificam os modos de aprender dos alunos e, claro,
os modos de ensinar. Martín Barbero (2002, p. 7) é afirma com toda
ênfase:
Somente
assumindo a tecnicidade midiática como dimensão estratégica da
cultura e que a escola pode hoje interessar a juventude e interagir
com os campos de experiência em que se processam
essas
mudanças: desterritorialização/relocalização das identidades,
hibridações da ciência e da arte, das literaturas escrituras e as
audiovisuais [...] assumindo essas transformações a escola poderá
interagir com as novas formas de participação cidadã que o novo
entorno comunicacional abre hoje à educação.
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